"Segundo certos autores, já os nossos antepassados Lusitanos teriam, de
certa forma, procedido à confecção de doces.
Decerto que, nesses longínquos tempos, a variedade não seria muita nem
as preocupações em relação à sua estética ou beleza tão pouco importantes,
tanto mais que a base da sua confecção eram produtos como a farinha de bolota e
o mel, além do leite de cabra; uma vez que produtos como o açúcar ou farinha de
cereais ou eram desconhecidos ou não abundavam na Península Ibérica…
Com a chegada dos Romanos e o seu estabelecimento na Península,
começaram a implantar-se os seus usos e costumes junto dos nativos, e com eles
chegaram também produtos até então desconhecidos na região. Além disso,
começou-se a assistir à criação de doces, devido ao género de vida urbana
implantado junto das populações autóctones da Península aquando das invasões de
vários povos vindos do Norte da Europa.
(foto tirada da Net)
Desde a queda do Império Romano, as populações que restavam das
grandes cidades passaram a confeccionar doces por ocasião de grandes
festividades. Apenas nos Mosteiros, devido à sua função de unidades de produção e centros
culturais, havia a possibilidade (talvez por haver aí quem os soubesse
fazer, e por também aí existirem os géneros necessários para o efeito - desde
matéria-prima a registos de antigas receitas), de ir passando as velhas
receitas que, no tempo do esplendor das grandes cidades, haviam sido populares.
Contudo, a conquista da Península pelos Mouros possibilitou o desenvolvimento
da agricultura e do comércio, tendo assim sido introduzido o cultivo e refinação
do açúcar nas zonas costeiras do Mediterrâneo e a laranjeira, o limoeiro e a amendoeira
a sul do Tejo - talvez fosse esse um dos factores que justifica até hoje a Doçaria
Algarvia, pois persistem receitas que remontam a um tempo muito antigo.
(foto tirada da Net)
Além disso, o desenvolvimento da produção da cana do açúcar a partir
da ilha da Madeira (século XV) e posteriormente também do Brasil (século XVI), possibilitaram
a generalização do emprego deste produto na Pastelaria Portuguesa. No entanto, a gente rural só raramente
incluía doces nas suas refeições, continuando a reservá-los para festas ou
ocasiões especiais, quer por não haver nem tempo nem know-how para a sua confecção, quer por não haver possibilidade de
adquirir açúcar e o mel ser escasso.
Mas, a partir do século XVI, graças às grandes indústrias açúcareiras
da Madeira, Açores, Cabo Verde, S. Tomé e Brasil, o preço do açúcar caiu tanto -
devido à abundância do produto e das grandes possibilidades advindas da ligação
das grandes rotas marítimas - que o seu consumo se foi generalizando a todos os
círculos sociais, pela Europa. Todavia, os conventos continuaram a ser, até
meados do século XIX, os principais centros de confecção de pastelaria em
Portugal.
Após as convulsões sociais e políticas desta época, resultou um lento
e gradual aumento do nível de vida das populações, o que fez com que algumas
famílias se especializassem na confecção de determinados doces, passados de
geração em geração, mantidos em segredo pelos familiares (em certos casos eram receitas
de comunidades que as geriam do mesmo modo que uma família). Então, por um lado
surgiam doces regionais, e por outro dava-se a renovação da confecção e surge a
venda de doces em ruas e praças, e porta-a-porta…
Assim, quase ao mesmo tempo que a produção do pão se industrializava
nas cidades e vilas, paralelamente acontecia a industrialização da Pastelaria, já
que nas padarias se confeccionavam e vendiam diferentes tipos de bolos secos.
Posteriormente, a Pastelaria industrial é ainda mais incrementada com a moda
citadina dos estabelecimentos hoteleiros e similares: por um lado os hotéis,
restaurantes e salões de chá, e por outro, cafés, leitarias e pastelarias;
pode-se pois afirmar que o desenvolvimento da Pastelaria Portuguesa está directamente
ligado ao desenvolvimento do Turismo e da Hotelaria em geral, da
interdependência entre eles, necessária para a apresentação de algo que
chamasse visitantes a determinada região."
(Texto adaptado de original do Pasteleiro Cláudio Monteiro)
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