Livro de Receitas

13/02/2013

Breve História da Doçaria em Portugal


"Segundo certos autores, já os nossos antepassados Lusitanos teriam, de certa forma, procedido à confecção de doces.
Decerto que, nesses longínquos tempos, a variedade não seria muita nem as preocupações em relação à sua estética ou beleza tão pouco importantes, tanto mais que a base da sua confecção eram produtos como a farinha de bolota e o mel, além do leite de cabra; uma vez que produtos como o açúcar ou farinha de cereais ou eram desconhecidos ou não abundavam na Península Ibérica…

Com a chegada dos Romanos e o seu estabelecimento na Península, começaram a implantar-se os seus usos e costumes junto dos nativos, e com eles chegaram também produtos até então desconhecidos na região. Além disso, começou-se a assistir à criação de doces, devido ao género de vida urbana implantado junto das populações autóctones da Península aquando das invasões de vários povos vindos do Norte da Europa.

(foto tirada da Net)

Desde a queda do Império Romano, as populações que restavam das grandes cidades passaram a confeccionar doces por ocasião de grandes festividades. Apenas nos Mosteiros, devido à sua função de unidades de produção e centros culturais, havia a possibilidade (talvez por haver aí quem os soubesse fazer, e por também aí existirem os géneros necessários para o efeito - desde matéria-prima a registos de antigas receitas), de ir passando as velhas receitas que, no tempo do esplendor das grandes cidades, haviam sido populares.



Contudo, a conquista da Península pelos Mouros possibilitou o desenvolvimento da agricultura e do comércio, tendo assim sido introduzido o cultivo e refinação do açúcar nas zonas costeiras do Mediterrâneo e a laranjeira, o limoeiro e a amendoeira a sul do Tejo - talvez fosse esse um dos factores que justifica até hoje a Doçaria Algarvia, pois persistem receitas que remontam a um tempo muito antigo.

(foto tirada da Net)

Além disso, o desenvolvimento da produção da cana do açúcar a partir da ilha da Madeira (século XV) e posteriormente também do Brasil (século XVI), possibilitaram a generalização do emprego deste produto na Pastelaria Portuguesa. No entanto, a gente rural só raramente incluía doces nas suas refeições, continuando a reservá-los para festas ou ocasiões especiais, quer por não haver nem tempo nem know-how para a sua confecção, quer por não haver possibilidade de adquirir açúcar e o mel ser escasso.



Mas, a partir do século XVI, graças às grandes indústrias açúcareiras da Madeira, Açores, Cabo Verde, S. Tomé e Brasil, o preço do açúcar caiu tanto - devido à abundância do produto e das grandes possibilidades advindas da ligação das grandes rotas marítimas - que o seu consumo se foi generalizando a todos os círculos sociais, pela Europa. Todavia, os conventos continuaram a ser, até meados do século XIX, os principais centros de confecção de pastelaria em Portugal.



Após as convulsões sociais e políticas desta época, resultou um lento e gradual aumento do nível de vida das populações, o que fez com que algumas famílias se especializassem na confecção de determinados doces, passados de geração em geração, mantidos em segredo pelos familiares (em certos casos eram receitas de comunidades que as geriam do mesmo modo que uma família). Então, por um lado surgiam doces regionais, e por outro dava-se a renovação da confecção e surge a venda de doces em ruas e praças, e porta-a-porta…



Assim, quase ao mesmo tempo que a produção do pão se industrializava nas cidades e vilas, paralelamente acontecia a industrialização da Pastelaria, já que nas padarias se confeccionavam e vendiam diferentes tipos de bolos secos. Posteriormente, a Pastelaria industrial é ainda mais incrementada com a moda citadina dos estabelecimentos hoteleiros e similares: por um lado os hotéis, restaurantes e salões de chá, e por outro, cafés, leitarias e pastelarias; pode-se pois afirmar que o desenvolvimento da Pastelaria Portuguesa está directamente ligado ao desenvolvimento do Turismo e da Hotelaria em geral, da interdependência entre eles, necessária para a apresentação de algo que chamasse visitantes a determinada região."

(Texto adaptado de original do Pasteleiro Cláudio Monteiro)

Sem comentários:

Enviar um comentário